O jogador reserva e as substituições no voleibol atual

 

          O voleibol nos tem mostrado que as equipes são organizadas taticamente e dirigidas durante as partidas, prevendo não apenas a atuação dos atletas titulares, mas também a dos reservas. As disputas de Paris 2024 confirmaram essas tendências. Várias seleções modificaram suas composições titulares na busca de mais eficiência ao enfrentar adversários de características diferentes. Ora buscavam através das alterações, fortalecer seus sistemas defensivos ou ofensivos, ora a busca era no intento de um maior volume de jogo, mas nitidamente, a preocupação mais usual era tornar sua maneira de atuar menos previsível.

 

          A Olimpíada mostrou também a utilização de atletas atuando em mais de uma função tática. Alguns ponteiros eram transformados em opostos e até mesmo fazendo as vezes de levantadores, quando nem os titulares da função e nem os líberos estavam em quadra. A utilização de opostos como passadores e defensores, que já era uma tendência de há algum tempo, também foi frequente.

Os exemplos citados mostram que as alterações no voleibol atual ganharam novas facetas, pois nem sempre elas são efetuadas por meio de um atleta que veio do banco, mas através de um titular atuando com novas funções táticas. Claro que para tanto há a necessidade que se tenha atletas que dominem bem todos os fundamentos, e sejam eficientes em todo o tipo de complexidade que a dinâmica do jogo apresentar. E tudo deve ser previsto e treinado.  

 

           Antes do início de cada temporada, a montagem do grupo de jogadores das equipes também prevê as possíveis substituições que as equipes titulares necessitarão ao longo das diversas competições que participarão.

 

          As substituições tradicionais em que um reserva entra no jogo pelo fato de um titular não estar jogando bem ainda acontecem, mas não são a regra. Ao armar taticamente uma equipe para as competições da temporada, o treinador moderno já planeja as substituições que dão complemento e enriquecem a estruturação planejada. As inversões do sistema de ataque 5x1, a entrada de um bom sacador, a de um bom jogador de fundo de quadra, e a de um levantador mais alto na rede para aumentar o bloqueio e prender o bloqueio adversário, já são previstas no momento da montagem inicial das equipes, e geralmente estão incluídas nos planos de jogo para cada partida.

 

          Os jogos têm mostrado que alguns atletas reservas quando entram em quadra, têm bom desempenho, entretanto outros, nem sempre são felizes. É comum um atleta entrar para sacar, em um momento decisivo do set ou do jogo, e errar. Também é comum um oposto, ao entrar em uma inversão de 5x1, não ser efetivo nos fundamentos de rede. Será que eles estavam realmente preparados para entrar e ter o desempenho esperado?

 

          O presente estudo pretende discutir como deve ser a preparação de um jogador de voleibol reserva. Os treinamentos técnicos, táticos, físicos e mentais dos reservas devem ser diferentes daqueles realizados com os titulares? Devido ao fato de eles permanecerem em quadra menos tempo que os titulares, tendo, portanto, um desgaste físico menor, seu treinamento deve ser diferenciado? Como deve se comportar mentalmente um atleta que fica fora da quadra, e como deve se preparar para adentrar nela em momentos decisivos, para corresponder às expectativas?

 

          Apesar de atuar menos tempo que os titulares, os reservas, que comumente fazem parte da estruturação tática das equipes e, portanto, são utilizados na grande maioria dos sets, têm influência direta nos resultados das partidas. Por esta razão, tanto os titulares quanto os reservas merecem, por parte dos treinadores, a mesma atenção nos treinos e nos jogos.

 

          Os reservas, quando menos exigidos fisicamente que os titulares, por jogarem menos, tem um desgaste menor, ou seja catabolizam menos. Por esta razão, quando a situação mencionada ocorrer, é necessária uma organização diferenciada de seus treinos. É comum que a organização dos vários momentos de uma periodização (micro, meso e macro ciclo) deles, seja diferente à dos titulares, caso contrário, dificilmente atingirão condições ótimas de performance, e dessa forma, não conseguirão contribuir de maneira eficaz quando solicitados.

 

          Pelas razões acima expostas, os treinadores precisam ter bem definidas as funções e responsabilidades de todos os atletas que compõem o seu grupo.  Cabe, portanto, aos componentes de uma comissão técnica, prepararem os titulares para as disputas, mas também os reservas, pois as peculiaridades destes diferentes trabalhos, requerem estratégias diferenciadas.

 

          A preparação mental de um atleta reserva

 

          É muito comum os treinadores não dedicarem aos seus atletas reservas a mesma atenção que dão aos titulares. Esquecem que estes atletas também têm seus sonhos, são comprometidos com os objetivos da equipe e muitas vezes a sua atuação é determinante para os resultados a serem obtidos. Merecem, portanto, atenções que atendam às suas especificidades e necessidades.

 

          O primeiro passo é o treinador preparar mentalmente um atleta para ser reserva e não titular. Dizer ao atleta os porquês de ele ser reserva, o que lhe falta para ser titular, quais são os planos   trabalho que serão desenvolvidos para o seu crescimento. Também deve ficar claro qual comportamento é esperado dele, não só para a busca de seus objetivos, mas principalmente para que a sua participação seja positiva para toda a equipe.

 

          A seguir o atleta precisa ser estimulado a ver que a reserva, naquele grupo, é uma oportunidade de crescimento, pois além de ter um trabalho especial para si, ele conviverá com atletas mais experientes, observará a atuação deles, vendo como eles resolvem certas situações que ainda lhes são mais difíceis.  Treinar com atletas melhores sempre ajuda o iniciante e menos experiente.

 

          A preparação de um atleta reserva nos treinos

 

          Durante as sessões de treinos o atleta reserva necessita ter um preparo que atenda às suas necessidades individuais, e o prepare para a sua atuação na equipe titular, quando solicitado.

Aqueles reservas que serão utilizados com frequência nos momentos decisivos dos sets, como os das inversões do sistema 5X1, os bons sacadores e passadores, os bons bloqueadores e o levantador reserva, devem constantemente treinar com a equipe titular para que adquiram um bom entrosamento com ela.

 

          Também deve ser considerado que os reservas que entram sempre em momentos decisivos, de cada set e jogo, merecem um preparo psicológico adequado para enfrentar as pressões inerentes às situações que enfrentarão. Os mecanismos de pressão que eles encontrarão, nos jogos, devem ser simulados nos treinos com a maior similaridade possível. Portanto, o jogador reserva, deve durante os treinos sentir que o treinador se preocupa com ele, que o valoriza e respeita. O treinador deve sempre mostrar que ele é importante, orientando-o e incentivando-o constantemente.

 

          O comportamento do atleta reserva durante as partidas

 

          Cabe aos treinadores a preparação adequada para que um atleta tenha uma atitude adequada ao ficar no banco de reservas nas partidas. Mas o fundamental é que o atleta veja aquele momento, como uma oportunidade para dar uma alavancada em seu jogo.

 

          Atitudes negativistas não ajudam o atleta que fica na reserva. Pensamentos tais como os citados a seguir não ajudarão o atleta a se tornar melhor:

          - “O técnico não gosta de mim”

          - “Treinei tanto; não mereço a reserva”

          - “Eu sou melhor que o titular”

          - “Que vergonha eu estar no banco”

          - “Espero que o treinador não me chame, pois o jogo é muito difícil”

 

          O atleta que realmente esteja comprometido com seu aperfeiçoamento e com o sucesso da equipe deve, ao ficar no banco, ter atitudes bem positivas:

          - “Vou aproveitar ao máximo esta oportunidade para aprender com os que estão na quadra para                       perfeiçoar o meu jogo”

          - “As possíveis dificuldades dos titulares poderão representar boas oportunidades”

          - “Sou capaz de resolver os problemas que a equipe está encontrando, caso o treinador me chame”

          - “Preciso estar atento ao desempenho que os atletas titulares da minha posição estão tendo.

              O que acertam e o que erram. Como eu faria?”

          - “Preciso demonstrar, para o treinador e para meus colegas de time, que também estou                                    participando do jogo, através vibrações, expressões corporais positivas e muita atenção nos                        pedidos de tempo”.

          - “Estou pronto para entrar e dar o meu melhor”.

 

          Ao ser chamado para entrar no jogo, o atleta reserva deve receber as orientações técnicas e táticas necessárias ao seu desempenho esperado, mas principalmente demonstrações de confiança por parte da Comissão Técnica. Também é muito interessante que ele receba, ao adentrar a quadra, demonstrações de apoio e confiança por parte do atleta que será substituído, bem como também por toda a equipe.

         

          Outro cuidado que as Comissões Técnicas devem ter é o de preservar a confiança do atleta titular que foi substituído. Ele deve ser bem recebido no banco pelos treinadores e pelos colegas reservas que lá se encontram. Ele deve ser orientado para que possa melhorar seu desempenho e deve sentir que todos continuam a confiar nele. Afinal trata-se de um jogador titular!

 

          Substituições para investimento e preparação de atletas de futuro promissor.

 

          É comum as grandes equipes possuírem, entre os seus reservas, jovens atletas que possuem ótimo potencial. Por serem ainda imaturos, deverão ser lançados aos poucos para que ganhem discernimento e experiência. Essa estratégia é geralmente utilizada em jogos fáceis e sem tanta importância, claro! Mas ela somente será útil ao novato, quando a estrutura básica da equipe titular for preservada para que ele se sinta amparado pelos mais experientes, e jogue em uma equipe bem estruturada em termos táticos. Colocar um jovem em uma equipe repleta de reservas em pouco o auxiliará, para que ele jogue com confiança.

 

          Substituições utilizando atletas com idade mais avançada.

 

          Não é incomum equipes terem em seus grupos um atleta de ótimo nível técnico e tático que, apesar de seu passado vencedor é reserva, pois a idade não lhe permite atuar um jogo todo devido a não possuir condições físicas para tal. Este atleta também requer um treinamento que atenda as suas particularidades. Isso para que tenha condições de colocar, de forma positiva, todo o seu potencial técnico e sua experiência a serviço da equipe.

 

            Conclusão

 

          Esse estudo é consequência daquilo que ocorre nas equipes de alto nível do voleibol atual, de clubes e seleções nacionais, onde a composição dos grupos baseia-se não apenas na formação do time titular. A formação do elenco como um todo considera de que forma as características dos titulares e reservas se completam e interagem, para que as necessidades técnicas e táticas que deverão surgir durante todo o ano competitivo possam ser contempladas. Portanto, todos os componentes do grupo merecem atenção, trabalho e incentivo.